Orizicultura
No campo, a necessária troca de informações
Este ano, o local escolhido foi a Granja do Salso, em Santa Vitória do Palmar
Carlos Queiroz -
Um dia de trocas. Assim foi o Dia de Campo organizado pelo Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga) Regional Zona Sul na última quinta-feira. Cerca de 900 pessoas, entre produtores, técnicos, estudantes e representantes de empresas do ramo agrícola, participaram de expedições pelas lavouras e de palestras. Este ano, o local escolhido foi a Granja do Salso, em Santa Vitória do Palmar. Há 50 anos produzindo arroz, a propriedade é vista como modelo por produtores rurais do setor orizícola. Com origem em mais de 30 cidades, agricultores tiraram dúvidas e conheceram novos projetos do instituto colocados em ação. A produtividade da granja deve atingir a maior média da história: dez mil quilos por hectare. A última safra no município colheu 553,8 mil toneladas em 68,8 mil hectares - média foi superior a oito mil quilos por hectare.
Entre o assunto com mais trocas de informações estava a rotatividade do arroz com a soja e a sistematização da irrigação nas propriedades. A rotatividade permite maior controle de pragas e produtividade. No formato “ping-pong”, como chamam os técnicos do Irga, é feito o plantio de soja onde antes havia sido colhido o arroz. Após a colheita da soja, se faz o plantio direto sobre a soja ressecada através de agrotóxicos. Já a sistematização de irrigação permite aos produtores maior controle sobre a água - principal aliada no combate a ervas daninhas como o arroz-vermelho e o capim-arroz.
Um ônibus cheio de produtores. A grande maioria vestia chapéu ou boné, apesar do dia não apresentar sol forte. Conversavam sobre grãos, tratores e como enfrentar pragas nas suas respectivas lavouras. Na primeira parada, três homens falavam debaixo de um gazebo, e cerca de 50 pessoas se aglomeraram numa pequena via entre as lavouras que se perdiam de vista.
“Santa Vitória tem uma tradição de 90 anos de plantio de arroz”, destacou Leandro Paiva, presidente da Associação dos Arrozeiros do município. De acordo com ele, a localização da cidade é privilegiada para o arroz irrigado. Cercada de lagoas, tem grande disponibilidade de água para irrigação. Na safra passada foram 70 mil hectares cultivados. O município tem a terceira maior área com arroz do Rio Grande do Sul e sustenta 8% da produção do Estado, o maior produtor de arroz do Brasil (69% da produção nacional). Márcio Silveira, diretor da Granja, deu um histórico da produção orizícola na propriedade. “Nos anos 1990 chegamos a ter 14 mil hectares cultivados”, recordou. A partir dos anos 2000, reduziu-se a área plantada na Granja, entretanto, aumentou a produtividade graças a novas técnicas implantadas. Um bom exemplo disso é o projeto 10 do Irga. “O projeto busca as melhores práticas para ter maior rendimento, otimizando insumos e também é baseado nas melhores técnicas agronômicas”, explicou André Mattos, coordenador do instituto na Zona Sul.
Entre professores, produtores, estudantes e outros interessados estava o produtor José Carlos Gross, 53. Natural de Camaquã, Gross buscava mais informações sobre a rotatividade de culturas. Há quatro anos ele está implantando o sistema - numa safra planta arroz e na seguinte cultiva soja. “É muito útil pra nós que produzimos, ver de perto as técnicas”, comentou. Ao todo foram cinco estações e cada uma tratava de um aspecto diferente das plantações. José Carlos tirou dúvidas em todas as paradas. “Hoje estou com 700 hectares de arroz e 300 de soja”, explicou. A área fica próxima à Lagoa dos Patos e, por isso, também dispõe de água suficiente para irrigação do espaço. A média do produtor é de 7,6 mil quilos por hectare.
Na segunda estação, Igor Kohls falou sobre a importância da semeadura em outubro. “Mês que tem maior radiação solar e maior resposta da adubação nitrogenada”, explicou aos visitantes. Kohls é chefe do Núcleo de Assistência Técnica e Extensão Rural (Nate). Na Zona Sul, 77% das plantações foram cultivadas em outubro. Ele ainda tratou da irrigação, que chega ao momento ideal quando surge a terceira ou quarta folha na planta. De acordo com Kohls, a irrigação no momento certo minimiza perdas de ureia e melhora o controle de daninhas.
Sobre o manejo de herbicidas, falaram os engenheiros André Ulghin, pesquisador do Irga, e André Andrez, pesquisador da Embrapa. A 3ª estação tratou do projeto 10 do Irga e palestraram os engenheiros Johnny Sgandella, gerente de setor da Granja, e Glaciele Valente, chefe do 16º Nate Santa Vitória do Palmar. O Irga busca, através deste projeto, que os produtores aumentem sua produtividade baseando-se em técnicas sofisticadas de cultivo e manejo.
A quarta estação apresentou as experiências com soja em áreas de várzea. O engenheiro responsável pelo setor dentro da Granja do Salso, Lucas Trürmer, falou sobre o processo de adaptação que a propriedade passa, implementando cada vez mais a rotatividade de culturas entre arroz e soja. Em 2008/2009 eram plantados 180 hectares de soja, hoje são 3,5 mil hectares. Nesta estação, também falou o professor de Agronomia da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), Dirceu Agostinetto, sobre o uso de agrotóxicos no cultivo da soja.
O agrônomo Délcio Laux, 71, pratica há dez anos a rotatividade. Com lavouras no interior de Pelotas, reside atualmente em Porto Alegre. De acordo com Laux, sem a soja, os produtores de arroz estariam sofrendo com ervas daninhas combatidas com os agrotóxicos utilizados no cultivo da soja. Além disso, por ser uma planta leguminosa, ao ser dissecada para o plantio direto ela deixa nutrientes e sais minerais de grande utilidade às cultivares de arroz. A quinta estação apresentou uma nova cultivar desenvolvida pelo Irga, em parceria com a Bayer, chamada BS Irga 1642 Ipro. Ela é adaptada às condições de várzea e resistente ao complexo de lagartas da soja.
Entre os visitantes estavam Franciele Kroessin, 25, e Newiton Timm, 21, da Engenharia Agrícola, e Larissa Erdmann, 20, da Agronomia. Os três são estudantes da UFPel e fazem parte do Laboratório de Pós-Colheita, Industrialização e Qualidade do Grão (LabGrãos). “É bom a gente ter contato com quem trabalha no dia a dia com agricultura, sai um pouco da teoria”, disse Franciele, próxima a uma exposição de máquinas agrícolas presente no evento.
Granja do Salso
Entre as maiores propriedades da Zona Sul do Estado, a Granja do Salso é vista como modelo na produção de arroz. Adquirida em 1966, no ano seguinte fez sua primeira colheita. Hoje está entre as maiores e mais tradicionais lavouras orizícolas do Rio Grande do Sul. Com mais de sete mil hectares de arroz cultivados, a safra 2016/2017 marca a comemoração dos 50 anos de cultura na propriedade. Idealizada pelos produtores Lauro e Érico Ribeiro, a fazenda hoje conta com 210 funcionários. “Temos funcionários que trabalham conosco há 49 anos”, disse Fernando Ribeiro, um dos proprietários. Cada funcionário é responsável por cem hectares. A propriedade conta com aplainamento do solo, canais de irrigação e drenagem e contínuo investimento em gestão técnica.
Desde 2008 a propriedade pratica a rotação entre soja e arroz. Até 2023, a lavoura pretende ter oito mil hectares de arroz e oito mil de soja. Ribeiro ainda exaltou a troca de experiências com outros produtores e as discussões que, segundo ele, fazem as propriedades evoluírem dia após dia.
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